segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Domingo no Parque


O rei da brincadeira (ê, José)
O rei da confusão (ê, João)

Um trabalhava na feira (ê, José)

Outro na construção (ê, João)

A semana passada, no fim da semana

João resolveu não brigar

No domingo de tarde saiu apressado

E não foi pra Ribeira jogar capoeira

Não foi pra lá, pra Ribeira, foi namorar

O José como sempre no fim da semana

Guardou a barraca e sumiu

Foi fazer no domingo um passeio no parque

Lá perto da Boca do Rio

Foi no parque que ele avistou Juliana

Foi que ele viu

Foi que ele viu Juliana na roda com João

Uma rosa e um sorvete na mão

Juliana seu sonho, uma ilusão

Juliana e o amigo João

O espinho da rosa feriu Zé

E o sorvete gelou seu coração

O sorvete e a rosa (ô, José)

A rosa e o sorvete (ô, José)

Foi dançando no peito (ô, José)

Do José brincalhão (ô, José)

O sorvete e a rosa (ô, José)

A rosa e o sorvete (ô, José)

Oi, girando na mente (ô, José)

Do José brincalhão (ô, José)

Juliana girando (oi, girando)

Oi, na roda gigante (oi, girando)

Oi, na roda gigante (oi, girando)

O amigo João (João)

O sorvete é morango (é vermelho)

Oi girando e a rosa (é vermelha)

Oi, girando, girando (é vermelha)

Oi, girando, girando...

Olha a faca! (olha a faca!)

Olha o sangue na mão (ê, José)

Juliana no chão (ê, José)

Outro corpo caído (ê, José)

Seu amigo João (ê, José)

Amanhã não tem feira (ê, José)

Não tem mais construção (ê, João)

Não tem mais brincadeira (ê, José)

Não tem mais confusão (ê, João)



No pródigo ano musical de 1967, “Domingo no Parque” ficou em segundo lugar no III Festival de MPB da TV Record, ganho por “Ponteio”. Inovadora em vários aspectos, a composição procura fundir musicalmente o tradicional/nordestino com o pop/internacional, enquanto, poeticamente, utiliza uma forma cinematográfica de narração, tal como a concorrente “Alegria, Alegria”.

A letra de “Domingo no Parque” descreve o drama passional de três personagens: o feirante José (“rei da brincadeira”), o operário João (“rei da confusão”) e a mulher Juliana, objeto de disputa entre os dois.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Geléia Geral

Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se inicia
Resplandente, cadente, fagueira num calor girassol com alegria
Na geléia geral brasileira que o Jornal do Brasil anuncia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

A alegria é a prova dos nove e a tristeza é teu porto seguro
Minha terra é onde o sol é mais limpo e Mangueira é onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem, Pindorama, país do futuro
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

É a mesma dança na sala, no Canecão, na TV
E quem não dança não fala, assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala as relíquias do Brasil:
Doce mulata malvada, um LP de Sinatra, maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano, superpoder de paisano, formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela, carne-seca na janela, alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade, hospitaleira amizade, brutalidade jardim
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

Plurialva, contente e brejeira miss linda Brasil diz "bom dia"
E outra moça também, Carolina, da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos e a saúde que o olhar irradia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
Um poeta desfolha a bandeira e eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento com o roteiro do sexto sentido
Voz do morro, pilão de concreto tropicália, bananas ao vento
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
A música “Geléia Geral” (Gilberto Gil – Torquato Neto), sofreu o veto da censura por ser considerada de conteúdo política contestatória, além de segundo os censores, fazer um retrato equivocado da situação pela qual passava o país.